Como sobreviver a 13 Reasons Why

8:18:00 da tarde Unknown 0 Comments



Começo por dizer que esta publicação contém spoilers, muitos spoilers. Não digam que não avisei. Se ainda não ouviram falar de "13 reasons why", a nova série da Netflix, é porque provavelmente não estão nas redes sociais. Não se fala de outra coisa. É a série mais mencionada do ano, no Twitter, e 2017 ainda nem vai a meio.

A estreia foi no dia 31 de março e, como é habitual em séries Netflix, todos os episódios ficaram imediatamente disponíveis na plataforma. O tema chegou até meu conhecimento através do buzz infinito que está a ter nas redes sociais. A curiosidade levou a melhor de mim e, no fim-de-semana passado, comecei a ver a série. Digamos que, em 5 dias, "papei" tudo.

"13 reasons why" conta a história de Hannah Baker. Ou melhor, conta a história da morte de Hannah Baker. Hannah narra a história na primeira pessoa e, logo no início do primeiro episódio, ficamos a saber que se suicidou e deixou 13 cassetes (sim, cassetes) onde explica os motivos que a levaram a cometer tal acto.

As cassetes acabam por parar nas mãos de Clay Jensen, que era seu colega na escola e no part-time que ambos tinham num cinema. Clay era apaixonado por Hannah, mas nunca tinha tido coragem para lhe dizer, limitava-se ao platonismo.

Cada uma das cassetes é sobre alguém que, de alguma forma, ditou o destino de Hannah. Ao longo dos episódios, Clay ouve as cassetes e vai descobrindo, através da narrativa da protagonista, qual o papel de cada um dos intervenientes no triste desfecho e como, sem se aperceber, teve também ele uma participação crucial no desenrolar dos acontecimentos. 
A protagonista começa por revelar como tudo começou, como passou a ficar conhecida como a galdéria da escola, aparentemente do nada. Descreve também como este acontecimento escalou até a um ponto em que os boatos se espalharam de forma descontrolada, levando a que os amigos se afastassem e a que estivesse fragilizada e facilmente exposta a  abusos, culminando com as dificuldades económicas que a sua família estava a passar.

Eu sei que, escrito desta forma, parece muito leve, mas a série está tão bem escrita e realizada que conseguimos sentir a solidão e o desamparo de Hannah em todas as situações duras com que vai lidando, e a tristeza e desilusão de perceber que as interacções que, à primeira vista, poderiam parecer fruto de boa vontade, eram, na realidade, um meio para atingir um fim.

Tenho ouvido muitas vezes a pergunta: "Mas foi só por isso que se suicidou?" - Bem, cada um vive e sente de forma diferente. O que para uns é uma banalidade que passa completamente ao lado, para outros poderá ser encarado como uma desilusão e ferir susceptibilidades que, ao se acumularem, poderão levar a pensamentos e comportamentos perigosos como o suicídio. Somos todos diferentes. Absorvemos o mundo de forma diferente. Enquanto não tivermos isso presente na forma como lidamos uns com os outros, continuarão a existir "Hannah Bakers".

"13 reasons why" é produzida por Selena Gomez e, para além do suicídio, aborda temas polémicos como bullying e abuso sexual. Mas, no cerne da polémica, está mesmo o tema suicídio. De um lado, temos quem considere que a série está a abrir olhos e a gerar consciencialização para o tema. Por outro, há quem defenda que os contornos de mártir dados a Hannah poderão despoletar e incentivar outros jovens a cometerem o mesmo ato. 

A realidade é que a série tornou-se tópico de discussão e já se fala numa segunda temporada. Na minha opinião, uma única temporada é o ideal. A história ficou bem contada, com uma genialidade quase obscura e acrescentar "chouriços" ao que claramente já serviu o seu propósito, parece-me... Despropositado. Li algures que existem duas hipóteses. Numa delas, a segunda temporada continua a contar a história dos personagens que estiveram envolvidos nas cassetes deixadas por Hannah. Muito provavelmente iríamos revisitar as situações dos seus pontos de vista aquando dos seus testemunhos no inquérito que foi levantado pela família da vítima contra a escola. Na outra hipótese, a mais interessante, pelo menos para mim, conta uma realidade em que Hannah não morreu. Atenção que continuo a achar que a série devia ficar por aqui, mas conhecendo bem o engenho do entretenimento norte-americano, penso que uma segunda temporada é quase certa.

A série é baseada no livro de Jay Asher, "Thirteen reasons why", lançado em 2007, e atingiu o primeiro lugar como best-seller do New York Times, em 2011.

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